A troca das cadeiras
Certa vez, estando cansada de
aguentar o peso de seu próprio dono, a cadeira resmungou à sua companheira
mesa:
- Cansei de ser sentada. Ninguém
me trata com respeito, o meu dono chega da rua de qualquer jeito e vai logo se
acomodando aos trancos. Se ao menos tivessem mais pessoas nesta casa. Se bem
que o seu peso vale por três. Isto sem mencionar os odores...
A mesa, em sua magnânima postura
– toda de vidro temperado, pernas de aço escovado com design europeu – fingiu
não ouvir nada.
A cadeira continuou a lamentação:
- Além do mais somos quatro aqui e eu sou sempre a escolhida, não é justo, quero trocar de posição. Acho mais do que justo um rodízio semanal de lugares. É o meu direito exigir a troca constante! Só eu estou ficando velha enquanto todas as outras três ficam jovens e lindas!
- Além do mais somos quatro aqui e eu sou sempre a escolhida, não é justo, quero trocar de posição. Acho mais do que justo um rodízio semanal de lugares. É o meu direito exigir a troca constante! Só eu estou ficando velha enquanto todas as outras três ficam jovens e lindas!
Sua colega da esquerda, num ar
blasé, retruca:
- Foi você quem escolheu ficar de frente para porta, querendo ser a primeira a ser vista pelos visitantes. Agora paga o preço, bem feito! Meu primo sofá sempre me dizia: “o apressado come cru”.
- Escuta aqui, desde o início eu notei a sua inveja sobre a minha posição! Não tenho culpa se meu jeito de ser te incomoda!
- Inveja?! Eu?! Você só pode estar delirando, eu continuo até hoje com o plástico cobrindo a minha pele. Tenho aparência de nova, ainda conservo o odor da minha mãe fábrica. Só fui usada por três vezes e todas elas foram por crianças.
- Foi você quem escolheu ficar de frente para porta, querendo ser a primeira a ser vista pelos visitantes. Agora paga o preço, bem feito! Meu primo sofá sempre me dizia: “o apressado come cru”.
- Escuta aqui, desde o início eu notei a sua inveja sobre a minha posição! Não tenho culpa se meu jeito de ser te incomoda!
- Inveja?! Eu?! Você só pode estar delirando, eu continuo até hoje com o plástico cobrindo a minha pele. Tenho aparência de nova, ainda conservo o odor da minha mãe fábrica. Só fui usada por três vezes e todas elas foram por crianças.
A mesa
continuou ouvindo por horas aquela ladainha de lamúria.
Ao ouvirem o
barulho da chave na porta, todas silenciaram. Era a empregada chegando para
cumprir a sua rotina semanal de limpeza.
A cadeira da direita não resistiu e sussurrou à sua inconformada colega:
- Hoje é a sua chance de mudar de lugar, a faxineira sempre nos coloca de pernas para cima logo após o almoço, posso trocar de lugar com você nesta hora. Eu já cansei de ficar escondida entre a parede e o sofá. Nem resto de comidas caem sobre mim. Nem lustrada direito eu sou. Quero me sentir útil, usada, quero servir ao meu dono. Se quiser, podemos trocar. Não nasci para ficar oculta.
- Obrigada amiga. Vamos aproveitar a faxina da tarde e mudaremos.
A cadeira da direita não resistiu e sussurrou à sua inconformada colega:
- Hoje é a sua chance de mudar de lugar, a faxineira sempre nos coloca de pernas para cima logo após o almoço, posso trocar de lugar com você nesta hora. Eu já cansei de ficar escondida entre a parede e o sofá. Nem resto de comidas caem sobre mim. Nem lustrada direito eu sou. Quero me sentir útil, usada, quero servir ao meu dono. Se quiser, podemos trocar. Não nasci para ficar oculta.
- Obrigada amiga. Vamos aproveitar a faxina da tarde e mudaremos.
Neste instante,
a mesa que até então nada falava, disse:
- Meninas, que
adianta ficarem brigando por posição se todas vocês sempre estarão embaixo de
mim? Estando à direita, à esquerda, na frente ou atrás, não importa. Todas
sempre serão usadas para que eu possa fazer o meu trabalho. Sou usada para
comer, ler, conversar, jogar baralho, escrever... e vocês, para que servem além
de sentar?! Nem isso sabem fazer com majestade. Preocupam-se muito com o status
e pouco com a serventia. Cada ser tem um propósito neste mundo. Não queira ser
uma obra de arte, conforme-se em ser cadeira, feita para sentar. Não se trata
de ser menos ou mais do que ninguém. Imagina se todas as cadeiras quisessem
ocupar o mesmo lugar! A dignidade vem com a capacidade de entendermos o nosso
lugar no mundo.
Neste momento um silêncio profundo dominou a sala, pois as cadeiras respeitavam muito o que ouviam da mesa, pois quando elas chegaram naquela casa, a mesa já estava ali.
Neste momento um silêncio profundo dominou a sala, pois as cadeiras respeitavam muito o que ouviam da mesa, pois quando elas chegaram naquela casa, a mesa já estava ali.
A faxineira toda serelepe com
balde e pano nas mãos aproximou, começou afastar todos os móveis, e, como era
previsto, colocou todas as cadeiras de pernas para o ar. Assim que saiu para
buscar o sabão em pó, as cadeiras rapidamente trocaram de lugar numa rapidez
quase imperceptível pelos os olhos humanos adultos – talvez uma criança
conseguisse ver.
- Vamos é a nossa chance, ela não
notará a troca! – dizia a cadeira da esquerda. E assim fizeram a troca.
Depois de limpar toda a casa, a
faxineira voltou cantarolando e começou a recolocar as cadeiras no lugar.
Ajeita aqui, ajeita ali e de repente viu uma mancha no assento de uma delas.
- Chi, o patrão vai brigar
comigo! Acho melhor colocar esta cadeira escondida.
Dito e feito. A faxineira trocou
as cadeiras de posição instintivamente, voltando-as todas às posições
originais.
A mesa, que segurava o riso,
calmamente disse:
- Bem que eu tentei alertá-las, minhas queridas. Por baixo de mim já passaram tantas cadeiras que já perdi a conta. Vocês podem ser dignas e exemplares em suas tarefas, desde que façam com dedicação e vontade. A rebeldia nem sempre nos leva a caminhos seguros. Não queiram ser o que não são. Uma cadeira jamais poderá ser um quadro, nem tampouco uma geladeira. Vocês brigam por uma posição de destaque, mas esquecem que estou aqui sempre a protegê-las. Não existe uma cadeira melhor do que a outra, todas vocês têm uma importante função em uma casa. O que seria do mundo se todos nós quiséssemos ser cadeiras?
Após dizer estas palavras, a mesa sentiu-se reconfortada e feliz ao ver suas queridas pupilas pensativas e com um ligeiro sorriso nos lábios.
- Bem que eu tentei alertá-las, minhas queridas. Por baixo de mim já passaram tantas cadeiras que já perdi a conta. Vocês podem ser dignas e exemplares em suas tarefas, desde que façam com dedicação e vontade. A rebeldia nem sempre nos leva a caminhos seguros. Não queiram ser o que não são. Uma cadeira jamais poderá ser um quadro, nem tampouco uma geladeira. Vocês brigam por uma posição de destaque, mas esquecem que estou aqui sempre a protegê-las. Não existe uma cadeira melhor do que a outra, todas vocês têm uma importante função em uma casa. O que seria do mundo se todos nós quiséssemos ser cadeiras?
Após dizer estas palavras, a mesa sentiu-se reconfortada e feliz ao ver suas queridas pupilas pensativas e com um ligeiro sorriso nos lábios.
Hora do
jantar!
http://aguasdeflavio.blogspot.com.br/2008/11/aplogo-troca-das-cadeiras.html, acesso em 14/04/2014, 12:23.
Atividades de minha autoria. Ao usá-las, favor mencionar o meu nome.
“A troca das
cadeiras”
1)“Isto
sem mencionar os odores...” (D28)
O
que o autor quis dizer com essa expressão?
2)De
quais materiais era feita a mesa?(D2)
3)
“Preocupam-se muito com o status e pouco com a serventia”. (D5)
Quais
palavras poderiam substituir as palavras destacadas sem alterar o sentido?
4)
“A mesa, em sua magnânima postura”.
Que
tipo de linguagem está retratado neste texto? (D13)
5)
Que gênero textual é esse? Retire do texto um trecho que exemplifique a
característica “seres inanimados com características humanas”. (D6)
6)Qual
é o tema e o assunto do texto? (D1)
7)Qual
o objetivo ou função sócio-comunicativa do texto?
8)O
que sugerem os termos destacados nas frases abaixo? (D11)
a-
“Certa vez, estando...” (l.1) ______________
b-
“o meu dono chega da rua” (l.3)_______________
c-
“Se os meus tivessem...” (l.4) ________________
d-“
e vai logo se acomodando” (l.4) ______________
e-“Hoje
é sua chance de mudar...” (l.26)________________
f-
“Neste instante, a mesa...” (l.32) ________________
g-
“sempre estarão embaixo de mim?” (l.33 e 34)
________________________
h-
“pois as cadeiras respeitavam muito...” (l.42) ____________________
9)
A quem se refere os termos destacados? (D15)
a-“Ninguém
me trata...” (l.3) _____________________
b-“Se
bem que o seu peso vale por três.” (l.5)___________________
c-“
e eu sou sempre a escolhida.” (l.9) __________________
d-“_Foi
você quem escolheu...” (.14)__________________
e-
“Meu primo sofá...” (l.15) ___________________
f-
“... todos silenciaram.” (l.23) _____________________
g-
“pois quando elas chegaram...” (l.42) ________________
h-
“ela não notará...” (l.48) __________________
i-“...
voltando-as...” (l.53) __________________
10)Qual
o conflito gerador da história? (D19)
11)No
texto há marcas de humor ou ironia? Justifique. (D23)